terça-feira, 4 de novembro de 2014

Portugal em Adaptação ao Aquecimento Global

  A histórica ligação dos países de língua portuguesa com Portugal, que lhes deu origem como nações modernas, faz interessante ouvir o que este tem a dizer sobre Adaptação ao Aquecimento Global, pois a base de formação do pensamento destes povos tem ponderável relação com o pensamento português. Situado acima de 36 graus de latitude norte, acima, portanto, do Trópico de Câncer, Portugal passa a ir tendo temperaturas médias mais favoráveis à agricultura ao longo do processo de Aquecimento Global (SANTOS; FORBES; MOITA, R., 2001). Mas a temperatura é só um componente do clima, nem sempre o mais importante.
Merece passar uma vista d'olhos na argumentação do Comité Executivo da Comissão para as Alterações Climáticas (CECAC), (Governo de Portugal, 2011) sobre a questão da Adaptação: “Porquê Adaptar? - Começar já a pensar em Adaptação às Acs”. Como a Espanha, Portugal está posto abaixo dos Pirineus, cadeia de montanhas que estabelece uma descontinuidade na distribuição dos efeitos do Aquecimento Global, desviando ao Sul parte dos efeitos que seriam sentidos ao Norte. Estando no lado Oeste da península Ibérica, Portugal os tem amainados, em relação à média espanhola. Nem por isto os tem desprezíveis. São suficientes para que Portugal tome nota deles.
Em primeiro lugar, no documento português especificamente referente à Adaptação, a atenção é chamada para a inevitabilidade do Aquecimento Global e seus efeitos. O Aquecimento Global é reconhecido como inevitável devido aos gases de efeito de estufa já presentes na atmosfera, adicionais, entenda-se, aos níveis que estabeleceram os parâmetros de temperatura anteriores ao Aquecimento e, daí decorrentes, os parâmetros climáticos previamente prevalecentes. Os efeitos desse aquecimento já se fazem sentir no país e este é um processo que irremediavelmente irá continuar no horizonte atualmente discernível.
Em segundo lugar, é visto, e é importante que o documento registre e destaque, já não ser apropriado tomar decisões com base no clima histórico. Os critérios utilizados nos processos de decisão que envolvem clima foram desenvolvidos com base na experiência com os climas de décadas passadas. Estes critérios influenciam decisões que vão desde o dimensionamento de estruturas de proteção costeira ou contra cheias até à seleção de culturas agrícolas adequadas a cada região. Climas diferentes do então predominante podem tornar muitos desses critérios desadequados.
Em terceiro, é chamada a atenção a que a Adaptação planejada é mais eficaz e mais eficiente do que a Adaptação reativa, ou seja, a tomada de medidas reativas em situações de emergência, ou simplesmente depois de instalados os desastres. Muitos dos impactos previsíveis da mudança dos climas serão expressos por uma provável maior frequência e intensidade de eventos meteorológicos extremos, como ondas de calor, incêndios descontrolados, secas extremas, e cheias recordes. São eventos, pela sua natureza, difíceis de prever. Não estar preparado - reduzindo exposição a riscos e/ou aumentando a capacidade de resposta aos eventos - poderá resultar em graves perdas de bens materiais e naturais, em descontinuação temporária de serviços públicos essenciais (água, saneamento, transporte e eletricidade), ou até, também, em desenvolvimento de novos problemas de saúde pública e em perda de vidas.
Em seguida registra que, de forma crescente Governos, Seguradoras e Investidores vão exigir serem os riscos climáticos considerados nos processos de decisão. Mesmo que hoje se considere a exposição de um determinado setor ou empresa a riscos climáticos não ser significativa, a ponto de desprezá-la, tal prática não terá continuidade com o crescente peso dos efeitos do Aquecimento Global. Ou será desastrosa se continuidade tiver. Será necessário responder de forma estruturada a questões de entidades públicas ou financeiras. Em muitos setores já é prática corrente a implementação de programas de minimização de todos os riscos conhecidos. As alterações climáticas são hoje um risco que não pode ser desconhecido e, deve, assim, ser incorporado nesses processos.
Finalmente é arguido que a Adaptação pode proporcionar benefícios locais imediatos. Decorrem da implementação de medidas de adaptação que aumentem a aptidão para viver e trabalhar com a maior variabilidade climática e seus eventos extremos. Não adaptar, pelo contrário, pode resultar em perda de oportunidades e, por consequência, de receitas que advenham de mudanças de preferências dos consumidores e de mudanças nos mercados.
De:
DIAS, Adriano; MEDEIROS, Carolina (Consultores:  MELO,  Lúcia; SUASSUNA, João; TÁVORA, Luciana; WANDERLEY, Múcio)
Convivência com a Seca e Adaptação - realidade e pesquisa
Relatório Parcial da Pesquisa

Adaptação ao Aquecimento Global:

uma visão sobre a pesquisa agropecuária no Norte/Nordeste


Coordenação de Estudos em Ciência e Tecnologia - CGCT

Fundação Joaquim Nabuco  www.fundaj.gov.br
Recife, 2014

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