segunda-feira, 24 de novembro de 2014

A mandioca: base alimentar do semiárido



A mandioca é uma planta originária do continente americano. Presente, de forma geral, na alimentação dos índios brasileiros e por eles cultivada, é base alimentar de várias tribos (OTSUBO, 2002; VAINSENCHER, 2009). Está presente na mesa dos habitantes do semiárido brasileiro, na forma de farinha e na forma de amido, na mesa dos brasileira, de forma geral. 

É um instrumento de adaptação ao aquecimento global. Como visto, em muitas regiões, especialmente nas regiões equatoriais, o aquecimento global, além do aumento da temperatura, pode trazer muitas secas. Então, como adaptação às alterações climáticas é necessário culturas com bom desempenho em condições adversas de aridez. A mandioca é uma dessas culturas. Vem sendoampliada sua resistência à seca (FUKUDA et al., 2006).
 
O cultivo da mandioca é uma forma de adaptação às alterações climáticas, analisado, com mérito acadêmico por Jarvis e outros (2011), em trabalho publicado na revista Tropical Plant Biology, de livre acesso, sob significativo título “Is Cassava the Answer to African Climate Change Adaptation?”, com resposta afirmativa como conclusão do trabalho. A aceitação desta afirmativa traria a solução, do ponto de vista de segurança alimentar aos que vivem no Polígono da Seca. Mas, seria a mandioca “a” resposta ou apenas “uma” resposta à adaptação climática equatorial, o que levaria à continuação da busca pela solução da Adaptação Agropastoril dos Sertões ao Aquecimento Global.
Veja-se o que diz a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa sobre o cultivo da mandioca:

Para evitar ou reduzir o esgotamento dos nutrientes do solo, deve-se proceder a rotação da mandioca com outras culturas, principalmente com leguminosas, como também, quando a mandioca for plantada no sistema de fileiras duplas, utilizar a prática de consórcio com culturas adequadamente como feijão, milho, amendoim etc., pois dessa forma ocorrerá uma melhor cobertura do solo. (SOUZA; FIALHO, 2012).

A recomendação da Embrapa, relativa à rotação com outras culturas, tendo sua visão fundamentada no conhecimento científico e na experiência dos campos de prova (EMBRAPA, 2012), orientados pela alta formação técnica, restringe a contribuição da mandioca, a qual exige outros cultivos também adaptados, para que ela seja eficiente e possa, assim, ser uma solução. Tal ponto de vista pode ser contraposto à experiência do quotidiano dos produtores, onde o conhecimento empírico parcialmente substitui o rigoroso conhecimento técnico-científico. É interessante, então, ouvir a experiência prática dos produtores. Pois dizem:
Não é recomendável repetir o plantio da mandioca na mesma gleba em que ela tenha sido cultivada no ano anterior, mas, sim, deve-se plantá-la após outra cultura, como milho, algodão, arroz, soja ou leguminosas plantadas como adubo verde. Para isso, será traçado um programa que se adapte às condições da fazenda e às possibilidades do mercado.
Uma das principais vantagens do plantio em rotação de culturas é possibilitar melhor controle das moléstias e pragas não comuns às plantações que se sucedem.” (CRIAR, 2012)
Portanto, a resposta à pergunta "É a mandioca “a” resposta ou “uma” resposta para adaptação às alterações climáticas?" pelo que dizem a pesquisa e a prática agrícola no Brasil, é que a mandioca é “uma” resposta para adaptação às alterações climáticas em áreas semiáridas. Não é “a” resposta, desde a ótica da produção agrícola, porque deve ser alternada com outras culturas para manter a produtividade do cultivo. Estas culturas usadas para a alternância, por sua vez, devem ter produtividade que as justifiquem, nas condições de aridez compatíveis com a cultura da mandioca, para que possam servir de culturas rotativas. Não é o cultivo da mandioca "a resposta”, mas é “uma resposta”. Assim, pesquisa torna-se necessária para prover culturas usadas para alternância com a mandioca, que sejam viáveis nas condições suportadas por ela.
Processos agroindustriais que firmam o consumo de frutos e raizes de plantas que sobrevivem em áreas de baixa precipitação e alta temperatura são fundamentais. Neste sentido é importante que seja ampliada a produção já existente de geração de conhecimento de apoio a atividades de transformação industrial desta natureza,” (FUKUDA et al., 2006). Também é importante que seja desenvolvido o mercado para estes produtos, sem o que as tecnologias ficam nas prateleiras e não cumprem o papel de irem voltando a agricultura na região para ser adequada aos novos tempos que vem vindo.

 Outras instâncias de convivência, veja em:

Na região equatorial: Convivência com a Seca = Adaptação ao Aquecimento Global


De:
DIAS, Adriano; MEDEIROS, Carolina 
(Consultores:  MELO,  Lúcia; SUASSUNA, João; TÁVORA, Luciana; WANDERLEY, Múcio)
Convivência com a Seca e Adaptação - realidade e pesquisa

Relatório Parcial da Pesquisa  Adaptação ao Aquecimento Global:
uma visão sobre a pesquisa agropecuária no Norte/Nordeste
Coordenação de Estudos em Ciência e Tecnologia - CECT/Fundação Joaquim Nabuco  www.fundaj.gov.br.    Recife, 2014

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